segunda-feira, 24 de maio de 2010

IV Seminário da Licenciatura em Artes Visuais FAV-UFG

Dentro do IV Seminário da Licenciatura em Artes Visuais da Faculdade de Artes da Universidade Federal de Goiás, tivemos a oportunidade de ouvir a Profa. Dra. Jociele Lampert, da UDESC, o Prof. Dr. Belidson Dias, da UNB e a Profa. Dra. Terezinha Losada, da UNIRIO. Entre os dias 18 e 29 de maio de 2010, debatemos aspectos fundamentais na formação do professor de artes visuais, tanto nas palestras dos convidados, como nos grupos de discussão que contaram com professores e alunos da faculdade, modalidade presencial e à distância, bem como profissionais atuantes nos diversos sistemas de ensino regular.

Na última palestra, dia 20, a professora Terezinha Losada discorreu sobre práticas e teorias na formação de professores de artes visuais, tendo como debatedora, a Profa. Dra. Edna de Jesus Goya, coordenadas pela Profa. Dra. Sainy Coelho Borges Veloso, ambas da FAV-UFG.

A professora Terezinha iniciou sua fala mostrando uma animação divulgada na internet que relata o processo de formação de um paradigma, deixando implícita a necessidade de se buscar questionar e superar os modelos postos a tanto tempo. Em seguida, exemplificou utilizando fatos relacionados à sua própria formação, marcada por um momento de protesto contra o currículo da época. Apontou, como resultado dessa ação, a certeza da necessidade de se estar atento a situações de interdição sem entendimento, buscando a firmeza de paradigmas explícitos. Como paradigmas explícitos, citou a estruturação de um currículo nos seu limites de crédito, numa idéia de currículo mínimo e em normatizações estabelecidas por legislações.

Nesse sentido, apontou os problemas a serem considerados ao se discutir uma nova proposta de formação, em ensino de artes visuais: a legislação nacional, o conceito de currículo que nortearia a discussão, o projeto político pedagógico e as metodologias do ensino específico.

Para fundamentar suas colocações, a professora resgatou a escola de design Bauhaus, do início do século XX, na Alemanha, e o exemplo nacional da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro. Sobre a Bauhaus, lembrou que era uma escola que se propunha a formar artífices, enfatizando a técnica, mas permeava esses conteúdos com um forte embasamento teórico, ao colocá-lo em debate. Sobre a Escola do Parque Lage, pontuou que oferece cursos livres fundamentados nas experimentações e na pesquisa, tendo uma estrutura simples, com um núcleo de formação básica, algumas poucas disciplinas teóricas, e a prática.

Retomando a licenciatura em artes visuais, comentou da luta primordial, ainda em curso, por presença efetiva nos currículos escolares, fundamentada em responsabilidades sociais. A professora contextualizou essa responsabilidade social a partir de reflexão sobre a utopia escolanovista de transformar o indivíduo pela arte.

As discussões que movimentam os debates atuais, na passagem do ideário moderno para o pósmoderno, percorrem o entendimento de Arte como conhecimento, a valorização das disciplinas teóricas, o declínio gradativo das disciplinas práticas e a disputa pelo prestígio representado pelas cargas horárias.
Essas transformações tem origem na mudança da ênfase da produção artística, da artesania para o uso mais intenso de tecnologias, tendo como consequência, a pluralidade de expressões. A tônica passou a ser conceitual, numa simbiose entre a arte e a filosofia, e a produção cultural nasce como simbiose entre arte e comunicação, numa pluralidade de intenções. Surge a necessidade de um discurso poético. As pluralidades colocam em questão o currículo rígido, que não dá mais conta de suas flutuações e movimentações, tornando-se um desafio, tanto técnico como político. As metodologias devem, agora, dar conta de um discurso difuso e tácito, e para tanto, devem desenvolver estratégias para discuti-lo; para criar, transformar e resgatar.

A professora apontou a Abordagem Triangular, estruturada pela professora Ana Mae Barbosa, como uma estratégia magistral para lidar com essa complexidade. Argumentou relacionando seu tripé, Apreciar, Fazer e Conhecer/contextualizar, com as três categorias de Pierce:
A primeiridade: corresponderia ao apreciar, como impressão de um fenômeno.
A secundidade: seria o fazer, como conflito, teste de hipótese.
E a terceiridade: seria o conhecer, como construção ou ratificação de conceitos e signos.

Mas Losada inverte o triângulo da Abordagem Triangular, colocando o Aprender relacionado aos fenômenos, e o Conhecer, aos conceitos, localizando-os acima da linha das coisas, das experiência, onde o Fazer se encarregaria de testar hipóteses, contextualizando o conhecimento. A sequência proposta seria, assim Aprender - Fazer - Conhecer.

Apresenta como Métodos/Técnicas para conduzir esse processo, os projetos curatoriais temáticos (artísticos, teórico-críticos e pedagógicos), o portfólio e os estágios, como modos de se evitar a dicotomia entre teoria e prática na formação de professores de artes visuais.

Finaliza com a apresentação de um desafio político: tornar esse projeto vivo, superando a ausência de um envolvimento de todos os professores, com discussões e efetivações.

No questionamento da professora Edna Goya sobre conhecimentos prático e teórico, ateliês e estágios, a professora Terezinha voltou a defender um currículo que contemplasse essa pluralidade, permitindo que o estudante construa seu mapa, estabelecendo as sínteses, mas permitindo-se ficar nos três níveis, percepção, conflito e síntese, no seu próprio tempo.

E-Arte/Educação Crítica

Na superação de uma perspectiva de visão única, característica do positivismo/cientificismo, a cultura digital isto é, a tecnologia enquanto cultura, pode se constituir num novo paradigma pedagógico: o olhar de "estranhamento" para com as imagens como processo de tentar entender, num exercício cognitivo de agregar significados.

A partir do entendimento de cognição como ato de conhecer/perceber/conceber, a nova perspectiva busca proporcionar o contato direto com a experiência, ampliando o repertório cognitivo e a percepção da relação do estudante com o seu envolvimento (vivência). Uma questão atual seria entender como se dá o desenvolvimento cognitivo da mente digital.

No estímulo à vivência, a e-arte/educação crítica propõe atribuir, ao estudante, a responsabilidade por suas ações. A educação positivista se fundamentava na apresentação de respostas, o que não induzia o estudante ao movimento de busca que caracteriza o ato cognitivo. O questionamento é a chave para acionar o processo cognitivo, com o objetivo de, na elaboração de respostas à questão produzir o material "idéia". Em "Frames of Mind: The Theory of Multiple Intelligences", Howard Gardner define INTELIGÊNCIA como a solução de um problema em um determinado contexto. O contexto abarca o ambiente simbólico composto pela situação externa e, também, pela interna, pois quanto menor o repertório, menor é a capacidade de interpretação de códigos.



Nas experiência de interpretação dos diversos códigos, dentro do percurso escolar, o universo de repertório dos estudantes vai se ampliando e, consequentemente, sua capacidade de interpretação. A mediação desse processo pode influir para que os estudantes busquem soluções investigativas, num diálogo entre os discursos e os recursos midiáticos.

O professor que pretende desenvolver experiências sob essa perspectiva deve estar atento para a maneira como os jovens se apropriam das tecnologias como meio de expressão, e não apenas como ferramentas. O planejamento das ações educativas deve considerar se suas proposições estimulam o jovem a desenvolver o pensamento digital crítico a cerca de seu universo, utilizando das ferramentas tecnológicas como meio de apropriação, expressão e afirmação.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Cinema Educativo, ainda...

Nos anos 30, a oligarquia do café, que abraçara o ideal do ensino intuitivo, entra em declínio, e é substituída por outro grupo, de caráter urbano que, em São Paulo, não desenvolveu um programa educacional próprio. Na verdade, o decreto de 1982 continuou vigente, mas sem real efetivação. As escolas modelo não se difundiram como se pretendia e o ideal se tornou utopia.

Nessa época, Cecília Meireles, a partir de sua função de coordenação da Instrução Pública, defende o Cinema Educativo como possibilidade de "trazer o mundo para dentro da escola", um aprendizado abrangente, onde "quase tudo (senão tudo) pode ser aprendido só pelo cinema".

Na mesma perspectiva, Theodoro Braga defende a necessidade de se valorizar os elementos nacionais. A arte é vista como "auxiliadora" dos outros assuntos, como o desenho fora colocado a serviço da ciência e do cientificismo.

No planejamento das aulas, e das aulas de artes, especificamente, devemos procurar perceber qual o uso da ferramenta, ou a relação entre o meio e os objetivos. Perguntas como: ensinar o quê, para quê e como? devem nortear as escolhas que o planejamento implica, levando-se em consideração a possibilidade de que essa aula seja proposta para pessoas que não gostem de artes, também, e não apenas aos aficionados. Deve implicar nesse convencimento do não convencido.

Uma análise do curta "Mãe Mão", de Marcos Magalhães pode relacionar essa condição de experiência e adesão, ou não, às questões propostas, no caso, pela grande mão.




Uma possibilidade de uso desse material, dentro de uma aula de artes visuais, poderia implicar na discussão da relação entre o que é ensinado, num programa de aulas, ou ainda, no condicionamento civilizatório que passa pelo ensino escolar, e o sentido dado a esse conhecimento pelo estudante. Poderia-se, a partir dessa discussão, iniciar uma série de abordagens de imagens de arte e da mídia, de um modo geral, na perspectiva dos estudos da cultura visual.

Na proposta de desenvolver uma continuação da animação de Marcos Magalhães, imagino um retorno ao começo, pois há um ciclo contínuo de aprendizados e ampliações.